5.8.09

o silêncio é a virtude dos loucos

depois de procurar, procurar, finalmente me encontrei!
com um rosto de cidade-fantasma. sentada numa cama suja. usando apenas minha ressaca e um vestidinho.
havia sangue a escorrer do nariz e me empastar os lábios. meus olhos tinham-se arroxeado.
cortes se abriram e uma série de ferimentos aflorou à superfície da pele. tudo por causa das palavras.
sinto como num sonho. onde me vejo e me entendo mas não me controlo.
é como se eu estivesse de fora. de fora da minha vida. sem poder me tirar daquele lugar.
e sem mim, eu jamais levantarei dali.
vejo olhos de lua nova.
e ainda ouço gritos.
parece que o mundo resolveu acabar hoje, e eu sou a única convidada.
me olho de novo naquela cama e vejo que quanto mais alto os gritos, mais as feridas sangram.
vejo as palavras me escalando e eu nada faço além de sangrar.
pareço uma estátua com o coração batendo.

-eu quero ir embora agora - digo eu, finalmente depois de sangrar o suficiente pra perder mais uma vida. não disse com raiva, nem sarcasmo. foi uma voz de vazio, para combinar com o rosto.

mas eu não vou.
eu nunca vou.
talvez sangrar seja meu vício.
e o silêncio, minha loucura.

"Aprendi silêncio com os falantes, tolerância com os intolerantes, e gentileza com os rudes; ainda, estranho, sou ingrato a esses professores."
Kalil Griban

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