13.10.09

ensaio sobre a tristeza

O segredo do amor é maior do que o segredo da morte. [Oscar Wild]
Nada é mais obscuro para a mente humana como a morte de um amor. A morte não é o fim, [dizem] é apenas um novo caminho a seguir, um novo passo, um novo rumo. Mas é rumo a quê?!?
'Ele foi para um lugar mais calmo' diziam para as crianças, mas quem sabe ao certo?
'Aposto que o seu pai está aqui com ele... contando piadas sobre a gente...' 'Agora ele vai poder descansar...' 'Não fique triste menina, ele está nos vendo... e continuará por perto...'
E quando eu poderei lhe dar um abraço?!?
E como eu peço ajuda ao meu pai no trabalho de literatura ou de produção escrita?!?
Que chato isso tudo. Ter que lidar com a morte nos mata aos poucos, nos faz sagrar sem ter feridas, nos faz pensar no tempo perdido com coisas tão pequenas.
Lágrimas derramadas por bobagens absurdas...
Que irônico.
Nessa vida, quase tudo é incerto... a única certeza que se tem é que todo ser vivo, morre. Mas ainda assim ficamos arrasados quando perdemos alguém que amamos. Aqueles que te ensinam o caminho e dizem coisas que você certamente dirá pros teus filhos.
E pior, é a dor dos que ficam... A esposa que viveu por 44 anos a seu lado, fará o que agora, sozinha pela primeira vez em mais de 44 anos?
O que faremos com todas as lembranças? Guardamos? Aonde?
Não há espaço, só um buraco e uma tristeza, que só vai acabar quando tiver passado e só vai ter passado quando a tristeza acabar.

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir prá não chorar...
Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Depois que me encontrar...

Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viver...
[Cartola]

3.10.09

celebrate

algumas coisas mudam sempre, outras não mudam nunca...
as comemorações continuam as mesmas, mas after na faculdade é uma mudança um tanto quanto radical na minha vida... mas enfim...
let´s work!

Hipótese 2
Escreva um conto, em terceira pessoa, no qual, uma das personagens instaure um diálogo (intertextualidade) com uma personagem de obras da literatura clássica. Não se esqueça de deixar pistas para o reconhecimento.

Foi no seu aniversário de trinta anos que Andréia decidiu viajar sozinha para conhecer a Europa. Mesmo parecendo bem mais jovem, ela se sentia velha e cansada. Seus olhos claros pareciam cada vez mais negros no espelho, e seus cabelos negros cada vez mais claros. Depois da morte precoce de seu marido, Andréia perdeu o gosto por viagens e por livros. Ítalo foi seu primeiro namorado e, mesmo com todas as brigas por ela achar que ser militar era uma profissão perigosa (e não é que era...) eles viveram sete lindos anos juntos. Talvez por isso esses dois anos sem Ítalo tenham sido tão difíceis.
Ela não queria uma festa surpresa, como fizeram no outro ano, nem queria ir a um barzinho com a prima encalhada ‘conhecer gente nova’. Não pensou por muito tempo; fez as malas e comprou a passagem para Portugal, -é mais fácil entrar na Europa pela pátria mãe- e mesmo depois de se prometer que não seria uma viagem triste, passou sua primeira noite ouvindo fado na baixa Lisboa e viu, aos prantos, o amanhecer à margem do Tejo.
De Portugal, Andréia foi para a Espanha, França, Inglaterra, Suíça, mas ela se encantou mesmo com a Itália... ‘ma che bella Itália’... Conheceu Milão, Roma, Florença, Veneza e passou uma semana na pequena Verona. Não fosse o vai-e-vem dos carros nas ruas, ela poderia pensar que viajou no tempo ao ver a arena que serviu de anfiteatro romano desde os anos 30 a. C. e ainda é palco de óperas e touradas.
Era praticamente impossível não pensar em Ítalo pelas ruas de Verona; cada cafeteria, cada bar, cada pedaço da cidade respirava romance e ela era a única a passear sozinha.
Na última noite que passou em Verona, Andréia não dormiu. Sentou-se em um bar e bebeu alguns martinis, depois foi a uma badalada casa noturna da cidade e dançou até quase amanhecer, e conheceu um rapaz lindo que depois de muita vodca, pensou ser Ítalo. Ele tinha os mesmos traços fortes dele, mas não era tão alto. Aquela confusão de idiomas e cheiros fez com que Andréia saísse de lá sem se despedir do tal rapaz e voltasse a pé e descalça para o hotel.
Foi quando ela viu um lindo jardim em uma linda mansão e resolveu sentar-se um pouco. Ao olhar a beleza das flores e o reflexo da lua na piscina lágrimas caiam dos seus olhos sem que ela se esforçasse para chorar; a imagem de Ítalo não saia da sua mente e lágrimas cada vez mais grossas saiam de seus olhos. Então ela olhou as estrelas, o chão, deu um longo suspiro e começou a chorar de verdade; alto e soluçando, como uma criança chora quando sente dor. Pensou que seria uma vergonha se alguém a visse assim, mas não se importava, afinal, ela era apenas uma turista.
Foi enquanto Andréia soluçava e repetia a frase ‘você não podia ter me deixado’ que ela ouviu uma voz baixa e doce vindo de dentro do jardim:
-A senhora está bem? –disse a voz em italiano.
Andréia tentou disfarçar sua embriaguez e respondeu ainda enxugando as lágrimas:
-‘tutto bene, tutto bene...’
A menina insistiu:
-A senhora quer um copo d´água ou um lenço de papel?
Não havia nada que irritasse mais Andréia do que ser chamada de senhora... e duas vezes já era demais. Virou-se e olhou a bela menina que estava abaixada atrás dela vestindo uma camisola e com um ar de piedade e curiosidade: -A senhora parece triste. –disse a menina com um certo receio da expressão de Andréia.
-É... eu estou triste. –disse Andréia sem tentar disfarçar os olhos inchados.
A menina estendeu uma mão com um lenço e logo depois a outra com o copo de água.
-As vezes chorar faz bem. -disse a menina -eu mesmo, já chorei tanto essa semana que daria para encher essa piscina.
-E por que uma menina tão jovem e tão linda choraria tanto assim? –perguntou Andréia já se recompondo da crise de choro.
-Por amor ora, por que mais choram as mulheres?!?
-É verdade... você ainda é uma menina, mas já pensa como mulher, não é.
-Me apaixonei muito nova pelo homem errado, isso nos faz amadurecer dez anos em dez dias.
-E eu me apaixonei pelo homem certo...
-Ele a abandonou?
-Não... antes fosse. Ao menos eu poderia vê-lo.
-Mas à pouco a senhora dizia...
-Senhora não querida, me chamo Andréia.
-Desculpe-me a indelicadeza, mas minha mãe insiste para que eu trate os mais velhos por senhor e senhora.
-Mas eu peço a gentileza de não me lembrar que sou uma senhora.
-Na verdade eu falo só por educação, pois a senhora... digo, você não parece em nada com uma senhora.
-Então me diga menina, por que seu homem é o homem errado.
-Ele é um Montecchio... e eu sou uma Capuleto... Nosso amor é impossível, nossas famílias se odeiam a gerações.
-Mas você ama o rapaz ou a família?
-Nós nos amamos, mas não podemos lutar contra nossas famílias.
-Mas vocês se amam? De verdade?
-Sim, de verdade... a primeira vez que o vi, sabia que era amor e que seria para sempre, mas logo fui avisada para manter distância, e que ele me faria mal.
-Mas ele não fez, não é verdade?
-Não... pelo contrário, ele me fez muito bem. Na mesma noite que nos conhecemos, depois da festa, ele me fez juras de amor bem ali, debaixo daquela sacada. E... –nesse momento a menina se detém, e não completa a sua frase...
-E... já sei... é segredo?!?
-Sim, temos um segredo... e se eu contar a você, mesmo sabendo que você não contará a ninguém deixará de ser segredo...
-Não tem problema, menina, não precisa me contar. Mas seja qual for a promessa feita, cumpra! Não deixe de amar por alguma ordem ou preconceito.
-É... nós cumpriremos a nossa promessa. Ainda nesta semana... e você? Não acredita mais no amor?
-Ah, querida, estou velha demais para me apaixonar perdidamente desse jeito, e eu não sei amar pela metade... ainda tenho que esquecer meu amor, para não esquecer como amar.
-Então por que ainda choras? Por que não deixa de sofrer e começa a viver? A vida é tão efêmera para sofrer por um sentimento tão nobre... –a menina disse isso enquanto olhava para a lua, e Andréia viu que o brilho dos olhos dela refletia o brilho da lua (ou seria o contrário?) e aquelas palavras tão fortes vindas de uma menina tão nova parecia sonho. Foi quando ela pensou no que tinha feito da sua vida nesses dois anos sem seu grande amor.
Não ligava para a sua mãe nem em datas como natal e aniversário, se afastou dos amigos, trancou a faculdade... enfim, Andréia viu que a menina estava certa. E que ela deveria viver mais e sofrer menos.
As duas conversaram por mais algum tempo e o sol começou a nascer...
Então Andréia se levantou ainda um pouco tonta pela quantidade de bebida ingerida naquela noite e agradeceu a menina pela atenção, pelo copo de água e pela conversa. Foi andando calmamente pela rua com os sapatos na mão e depois de pouco caminhar lembrou-se de uma gafe que havia cometido... voltou correndo pela rua e ainda pôde ver a menina fechando a porta de sua varanda para se deitar.
-Hey, menina... –disse Andréia quase sussurrando para não acordar seus pais. –você não me disse seu nome...
-Ah, claro... que distração a minha, conversamos tanto e eu nem me apresentei. Me chamo Julieta.
-Tenha bons sonhos doce Julieta, e mais uma vez obrigada.
Voltou então a caminhar com passos calmos pela rua com a estranha sensação de já conhecer Julieta de algum lugar...


Viviane Floripi 2º semestre Letras